Átomo...Uma Esperança de Vida

Eles descobriram novas formas de unir átomos de carbono, métodos atualmente usados na fabricação de remédios

O norte-americano Richard Heck e os japoneses Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki ganharam nesta quarta-feira o Prêmio Nobel de Química por terem descoberto novas formas de unir átomos de carbono, métodos atualmente usados na fabricação de remédios, na agricultura e na produção de eletrônicos. Os três foram agraciados com o prêmio pelas pesquisas nas décadas de 1960 e 1970 que levaram ao desenvolvimento de uma das mais sofisticadas ferramentas disponíveis para a química atualmente, chamada "acoplamentos cruzados catalisados com paládio em sistemas orgânicos".

A técnica permite que os químicos liguem átomos de carbono, um importante passo no processo de construção de moléculas complexas. O método desenvolvido pelo trio é usado atualmente em todo mundo na produção comercial de fármacos, dentre eles remédios que poderão ser usados para tratar câncer, além de moléculas usadas na indústria de eletrônicos, informou a Real Academia Sueca de Ciências. O método criado por Heck é usado na produção de herbicidas, disse a academia.
A técnica é utilizada para produzir artificialmente a discodermolida, uma sustância que destrói o câncer e que foi encontrado pela primeira vez em esponjas marinhas, lembrou a academia em comunicado. A entidade notou que ainda não foi desenvolvido um medicamento contra o câncer baseado nessa sustância. "Somente o futuro dirá se a discodermolida pode ser um medicamento capaz de salvar vidas", avaliou a academia.
Heck, de 79 anos, é professor emérito da Universidade de Delaware. Negishi, de 75, é professor de Química na Universidade de Purdue, em West Lafayette, Indiana, e Suzuki, de 80, é professor da Universidade de Hokkaido em Sapporo, no Japão.
Negishi disse, em teleconferência de Indiana (Estados Unidos) com jornalistas em Estocolmo, que ficou muito emocionado ao ser acordado com a ligação telefônica do comitê do Nobel e disse que começou a sonhar com o prêmio "meio século atrás". "O prêmio Nobel tornou-se um sonho real para mim quando eu tinha 20 e poucos anos", disse ele, acrescentando que vai usar um terço do prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,5 milhão) para levar adiante suas pesquisas. "Eu posso ter conquistado talvez metade de meus objetivos e gostaria de trabalhar por pelo menos mais uns dois anos", disse Negishi.
Heck, que se aposentou das pesquisas, disse que o prêmio provavelmente não vai provocar grandes mudanças em sua vida estabelecida nas Filipinas, onde ele vive com a mulher e cuida de orquídeas e pássaros. "É bom receber o prêmio, mas não acho que ele vá mudar a minha vida. Estou muito velho", disse ele à AP.
Em coletiva de imprensa transmitida pela televisão da Universidade de Hokkaido, Suzuki disse que estava honrado com o prêmio e que espera que ele inspire jovens japoneses a explorar a química. "Para minha tristeza, não muitos jovens parecem interessados em ciência, especialmente em química", disse Suzuki "Um país pobre em pesquisas como o Japão pode apenas contar com a iniciativa pessoal e o conhecimento. Eu gostaria de continuar meus esforços para ajudar os jovens."
As técnicas desenvolvidas pelos três cientistas têm sido usadas para produzir novos antibióticos que combatem bactéria resistentes e uma série de medicamentos já comercializados, dentre eles o anti-inflamatório naproxen, disse
Claes Gustafsson, integrante do comitê do prêmio. "Há cálculos que indicam que não menos do que 25% de todas as reações químicas da indústria farmacêutica são efetivamente baseadas nesses métodos", afirmou Gustafsson.
Acoplamentos cruzados catalisados com paládio também são usados pela indústria de eletrônicos na cobertura de circuitos eletrônicos e como ferramenta para o desenvolvimento de telas de computador mais finas, revelou Jan Erling Backvall, também integrante do comitê do prêmio. A técnica é amplamente usada em laboratórios de pesquisa e na produção comercial de substâncias como plásticos, disse Joseph Francisco, presidente da Sociedade Americana de Química e colega de Negishi no departamento de química de Purdue. "É realmente um trabalho fundamental".
Ao usar o metal paládio como um catalisador para fazer com que os átomos de carbono se liguem, a técnica faz com que isso aconteça "muito facilmente, muito claramente", disse ele. O método exige menos passos do que os anteriores e evita subprodutos indesejados.
Heck iniciou suas pesquisas com o uso do paládio como catalisador quando trabalhava para uma empresa química norte-americana em Delaware na década de 1960. Em 1977, Negishi desenvolveu uma variante do método e dois anos mais tarde Suzuki desenvolveu outro. Heck foi o único norte-americano dentre os vencedores dos prêmios Nobel de ciências deste ano.
O comitê do prêmio ignora a cláusula do testamento de Alfred Nobel de que o prêmio seja concedido a descobertas feitas no ano anterior porque leva tempo para medir os benefícios que elas trazem. Não é incomum que o Nobel premie pesquisas feitas décadas atrás, especialmente se sua aplicação aumentou com o tempo. "Este é um dos casos. Ela se tornou mais e mais usada", disse Gustafsson, do comitê do prêmio de química.
A academia disse que o prêmio de química tem uma ligação com a pesquisa que recebeu o Nobel de física na terça-feira, outorgado aos russos Andre Geim e Konstantin Novoselov pelas pesquisas com grafeno, o mais fino e mais forte material conhecido. "Na primavera de 2010 (no hemisfério Norte), cientistas anunciaram que haviam ligado átomos de paládio ao grafeno e o material sólido resultante foi usado para completar a reação de Suzuki na água."
O anúncio dos prêmios Nobel começou na segunda-feira, com o prêmio de medicina, concedido ao professor britânico Robert Edwards pelas pesquisas de fertilidade que levaram ao primeiro bebê de proveta.
O prêmio de Literatura será anunciada no quinta-feira, seguido pelo da Paz na sexta-feira. O Nobel de Economia será anunciado na segunda-feira, dia 11.
O prêmio foi estabelecido pelo industrial sueco Alfred Nobel - o inventor da dinamite - e é sempre entregado no dia 10 dezembro, aniversário de sua morte, ocorrida em 1896.