Os formulários podem manipular você
Ativistas, empresas e políticos têm brigado em torno de uma questão ignorada por quase todo mundo até pouco tempo atrás: a configuração padrão de formulários. É aquela questão de, em uma lista de opções, colocar “clique aqui se você concorda com isso” ou “clique aqui se você NÃO concorda com isso”.
Trocar uma só palavra faz uma enorme diferença, ao que indicam as pesquisas de uma ciência chamada economia comportamental. É, por exemplo, o motivo de existirem diferentes taxas de doadores de órgãos em países europeus. Em lugares onde o formulário diz “marque X se você não quiser ser doador” – ou seja, que assumem de antemão que todo mundo doará órgãos – possuem taxas próximas de 100%. Já em países como a Dinamarca, onde o formulário assume o contrário, a taxa de doadores não passa de 4%.
Aparentemente, nós humanos temos a tendência de seguir os padrões. Quando o formulário diz que podemos, se quisermos, fazer um “x” naquele quadrado e entrar para o programa de doação de órgãos, fazemos uma série de cálculos. Usamos a configuração padrão como ponto de referência e, daí, pensamos “por que eu vou me dar ao custo de mudar o que é normal?”. Dessa forma, quem escreve o formulário tem o poder de direcionar a escolha da maioria mesmo que apresente duas opções idênticas.
A questão fica mais quente quando se pensa na enorme quantidade de fichas que as pessoas precisam preencher atualmente – em cada site, loja ou repartição pública. Muitas vezes, as pessoas sequer têm tempo ou conhecimento para mudar os padrões apresentados a eles. Um exemplo é a polêmica sobre até que ponto o Facebook respeita a privacidade. A empresa se defende alegando que, se quiserem, os usuários conseguem definir quais informações estarão disponíveis ao público. No entanto, o padrão do site coloca quase todos os dados como abertos – o que coloca em risco a privacidade de muitos usuários.
A questão dos padrões é hoje tão quente que, para alguns teóricos, ameaça o que chamamos de democracia. Afinal, mesmo que as pessoas tenham liberdade para escolher o que quiserem, quem escreve os formulários pode dirigir a opinião da maioria e conquistar um poder enorme. Já existem propostas para minimizar o problema, como fazer pesquisas de opinião antes de criar o formulário ou colocar, no padrão, as opções que promovam o maior bem estar. Há também quem defenda que as empresas sejam responsabilizadas pelas opções que colocam como modelo. De qualquer modo, fique de olho bem aberto cada vez que for preencher um questionário.
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