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Maldade infantil!

A maldade não é mais segredo para ciência. Hoje em dia, os pesquisadores já sabem que a crueldade se manifesta de forma biológica, como uma falha nos circuitos cerebrais, e que pode ter fatores sociais e genéticos.
O psiquiatra Fábio Barbirato, chefe do setor de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explicou à revista GALILEU como essa maldade aparece nas crianças. 

GALILEU: Uma criança pode ser tão maldosa quanto um adulto? 

Barbirato: Maldade pode ser definida como falta de empatia. Quando você provoca algo mal a alguém, é porque você não está muito preocupado com que essa pessoa venha se machucar fisicamente ou emocionalmente. Isso significa que você não se importa com o outro. A gente sabe que essa falta de empatia está ligada a algumas áreas do cérebro, como o córtex frontal. Ela também está ligada, em seus casos mais extremos, ao que os antigos chamavam de psicopatia e hoje nós chamamos de personalidade antissocial. O termo utilizado para definir essa mesma falta de empatia em uma criança é transtorno de conduta. Esse transtorno começa na infância e pode ser diagnosticado até os 17 anos. Ele se caracteriza justamente pela falta de empatia e remorso. Um paciente meu, por exemplo, foi proibido pela mãe de sair de casa porque tirou notas baixas. Ele pegou o cachorro da mãe e enfiou várias agulhas nele. Outro paciente pegou o cachorro da mãe e colocou dentro do microondas. E eles não se arrependem disso, falam sem nenhum tipo de remorso. A violência dessa criança pode ser física, ele pode ser aquele garoto que junta uma galera pra bater em outro menino porque ele é mais pobre ou negro, ou tem características homossexuais. Mas essa violência pode aparecer de outras formas – ele pode ser aquela criança que rouba a prova do amigo, por exemplo. Essa violência pode ser observada partir dos 5 anos de idade. 

Porque só conseguimos perceber esse transtorno a partir dos 5 anos? 

Barbirato: A gente só pode fazer o diagnóstico a partir dos 5 anos de idade porque as áreas do cérebro ligadas ao comportamento inibitório só se desenvolvem a partir dessa idade. Depois disso, a criança já sabe o que é errado e certo. Sabe que, se machucar alguém, esse alguém vai sentir dor. Ela já consegue se colocar no lugar do outro e já tem a capacidade de inibir seu comportamento se perceber que vai fazer mal a alguém. Depois do diagnóstico, temos que incentivar a família, para não reforçar esse comportamento agressivo e não ser modelo dele. 

Que tipo de características iremos ver em uma criança com transtorno de conduta? 

Barbirato: São crianças que têm comportamentos perversos, agressivos. São aquelas que, quando podem roubar um brinquedo de alguém, vão lá e roubam. Aquelas que batem ou mordem os amigos, mas que fazem de modo que ninguém veja. São crianças que manipulam os adultos. Normalmente, elas são muito sedutoras, conseguem transformar a situação a seu favor. São extremamente inteligentes. 

Essa criança vai levar essas características para a vida adulta? 

Barbirato: De 70% a 90% dessas crianças desenvolvem uma personalidade antissocial. 

Temos como prevenir isso? 

Barbirato: Quanto mais precoce for a identificação do transtorno, melhor. É importante perceber que seu filho está muito agressivo, não demonstra grandes arrependimentos. E aí procurar ajuda. Não há medicação nenhuma que mostre resultado nesses casos. São quadros que precisam de uma reestruturação familiar. A ideia não é ensinar e educar seu filho, mas mudar a dinâmica da família. Comportamentos positivos trazem benefícios muito maiores do que comportamentos negativos. 

Então o papel dos pais é importante no surgimento desses casos? 

Barbirato: Não vou falar que eles são causadores, porque está provado que é uma questão orgânica, uma alteração do funcionamento normal do cérebro. Como a criança não tem freio inibitório, acaba tendo comportamentos inadequados. Mas, se o jovem tiver uma família que é mais próxima, que o ajude a perceber que esses atos são danosos aos outros, que o faça notar que o outro se sente incomodado pelas suas atitudes, é possível mudar seu comportamento. Para que, no futuro, esses jovens não tenham que passar por uma intervenção médica ou até mesmo uma internação em uma instituição correcional, como as antigas FEBEM. Porque, provavelmente, muitos dos jovens que estão internados nestas instituições são jovens com transtorno de conduta que não tiveram a facilidade de um diagnóstico precoce e uma ajuda familiar. 

A internação nesse tipo de instituição pode ajudar a recuperar a criança? 

Barbirato: Os estudos mostram que é muito importante ter a família junto, para reforçar positivamente cada memória que o jovem tenha. É importante ele estar num ambiente que seja estimulante à melhora do comportamento. Nessas instituições, pelo contrário, ele está convivendo com jovens que também são agressivos, também são violentos e não mostram nenhum tipo de arrependimento. Isso só vai reforçar aquela atitude. 

Por parte de família, que tipo de comportamento poderia aumentar a empatia da criança? 

Barbirato: 
Não existe uma regra, uma receita de bolo. A família tem que prestar atenção se o filho tem pouca empatia, pouco arrependimento, rouba coisinhas da creche. Eles não devem ter preconceitos e procurar uma ajuda o mais rápido possível. Devem procurar um profissional, psiquiatra ou psicólogo especializado nisso, porque assim podem prevenir que no futuro ele venha a ter problemas graves, desde agressividade até abuso de drogas.

A maldade não é mais segredo para ciência. Hoje em dia, os pesquisadores já sabem que a crueldade se manifesta de forma biológica, como uma falha nos circuitos cerebrais, e que pode ter fatores sociais e genéticos. O psiquiatra Fábio Barbirato, chefe do setor de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explicou à revista GALILEU como essa maldade aparece nas crianças.

GALILEU: Uma criança pode ser tão maldosa quanto um adulto?

Barbirato: Maldade pode ser definida como falta de empatia. Quando você provoca algo mal a alguém, é porque você não está muito preocupado com que essa pessoa venha se machucar fisicamente ou emocionalmente. Isso significa que você não se importa com o outro. A gente sabe que essa falta de empatia está ligada a algumas áreas do cérebro, como o córtex frontal. Ela também está ligada, em seus casos mais extremos, ao que os antigos chamavam de psicopatia e hoje nós chamamos de personalidade antissocial. O termo utilizado para definir essa mesma falta de empatia em uma criança é transtorno de conduta. Esse transtorno começa na infância e pode ser diagnosticado até os 17 anos. Ele se caracteriza justamente pela falta de empatia e remorso. Um paciente meu, por exemplo, foi proibido pela mãe de sair de casa porque tirou notas baixas. Ele pegou o cachorro da mãe e enfiou várias agulhas nele. Outro paciente pegou o cachorro da mãe e colocou dentro do microondas. E eles não se arrependem disso, falam sem nenhum tipo de remorso. A violência dessa criança pode ser física, ele pode ser aquele garoto que junta uma galera pra bater em outro menino porque ele é mais pobre ou negro, ou tem características homossexuais. Mas essa violência pode aparecer de outras formas – ele pode ser aquela criança que rouba a prova do amigo, por exemplo. Essa violência pode ser observada partir dos 5 anos de idade.

Porque só conseguimos perceber esse transtorno a partir dos 5 anos?

Barbirato: A gente só pode fazer o diagnóstico a partir dos 5 anos de idade porque as áreas do cérebro ligadas ao comportamento inibitório só se desenvolvem a partir dessa idade. Depois disso, a criança já sabe o que é errado e certo. Sabe que, se machucar alguém, esse alguém vai sentir dor. Ela já consegue se colocar no lugar do outro e já tem a capacidade de inibir seu comportamento se perceber que vai fazer mal a alguém. Depois do diagnóstico, temos que incentivar a família, para não reforçar esse comportamento agressivo e não ser modelo dele.

Que tipo de características iremos ver em uma criança com transtorno de conduta?

Barbirato: São crianças que têm comportamentos perversos, agressivos. São aquelas que, quando podem roubar um brinquedo de alguém, vão lá e roubam. Aquelas que batem ou mordem os amigos, mas que fazem de modo que ninguém veja. São crianças que manipulam os adultos. Normalmente, elas são muito sedutoras, conseguem transformar a situação a seu favor. São extremamente inteligentes.

Essa criança vai levar essas características para a vida adulta?

Barbirato: De 70% a 90% dessas crianças desenvolvem uma personalidade antissocial.

Temos como prevenir isso?

Barbirato: Quanto mais precoce for a identificação do transtorno, melhor. É importante perceber que seu filho está muito agressivo, não demonstra grandes arrependimentos. E aí procurar ajuda. Não há medicação nenhuma que mostre resultado nesses casos. São quadros que precisam de uma reestruturação familiar. A ideia não é ensinar e educar seu filho, mas mudar a dinâmica da família. Comportamentos positivos trazem benefícios muito maiores do que comportamentos negativos.

Então o papel dos pais é importante no surgimento desses casos?

Barbirato: Não vou falar que eles são causadores, porque está provado que é uma questão orgânica, uma alteração do funcionamento normal do cérebro. Como a criança não tem freio inibitório, acaba tendo comportamentos inadequados. Mas, se o jovem tiver uma família que é mais próxima, que o ajude a perceber que esses atos são danosos aos outros, que o faça notar que o outro se sente incomodado pelas suas atitudes, é possível mudar seu comportamento. Para que, no futuro, esses jovens não tenham que passar por uma intervenção médica ou até mesmo uma internação em uma instituição correcional, como as antigas FEBEM. Porque, provavelmente, muitos dos jovens que estão internados nestas instituições são jovens com transtorno de conduta que não tiveram a facilidade de um diagnóstico precoce e uma ajuda familiar.

A internação nesse tipo de instituição pode ajudar a recuperar a criança?

Barbirato: Os estudos mostram que é muito importante ter a família junto, para reforçar positivamente cada memória que o jovem tenha. É importante ele estar num ambiente que seja estimulante à melhora do comportamento. Nessas instituições, pelo contrário, ele está convivendo com jovens que também são agressivos, também são violentos e não mostram nenhum tipo de arrependimento. Isso só vai reforçar aquela atitude.

Por parte de família, que tipo de comportamento poderia aumentar a empatia da criança?

Barbirato: Não existe uma regra, uma receita de bolo. A família tem que prestar atenção se o filho tem pouca empatia, pouco arrependimento, rouba coisinhas da creche. Eles não devem ter preconceitos e procurar uma ajuda o mais rápido possível. Devem procurar um profissional, psiquiatra ou psicólogo especializado nisso, porque assim podem prevenir que no futuro ele venha a ter problemas graves, desde agressividade até abuso de drogas.
FONTE: Revista Galileu

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